Só dessa vez, você poderia ficar.


Hoje eu quase quis me jogar pela janela do hotel.
Talvez sete andares de queda me fizessem sentir pelo menos três segundos de frio na barriga que se equiparassem ao que eu senti em apenas uma piscada de olhos quando eu te vi nessa manhã.
Agora estou sentenciada. Essa é a sentença de ter você ocupando esse espaço enorme que ficou dentro de mim desde que se mudaram daqui pela última vez.
Agora você está colocando seus móveis e seus porta-retratos nas paredes desse meu cômodo secreto. Está fazendo daqui um lar e eu fiquei o dia todo repetindo para mim mesma que desta vez, só desta vez, você poderia ficar.

Olhe só para mim agora. É a minha hora de andar por esse lugar que tantas vezes fora o cenário dos nossos adeus. É a minha vez de segurar essa passagem tentando afastar qualquer lembrança que me fizesse sentir essa dor no estômago que não me deixa desde que você trocou minhas mãos por duas malas enormes e andou até sumir da minha visão.
Olha só pra mim! Eu que sempre te disse que queria ser livre o bastante para ser eu mesma e que não queria nunca criar raízes.
Acabei criando mofo.

Ando por esse mesmo caminho que você fez há algumas horas atrás e vou voando te procurar. Literalmente.
Duas horas se tornam uma eternidade. Uma eternidade vendo você em todas essas nuvens (sorrindo, é claro). E adormeço.
Quando me dou conta, não posso mais voltar atrás. E eu nem quero.
Corro, pego o primeiro táxi que vejo em minha frente e digo num sussurro o seu endereço para o motorista.
Paro em frente à portinha azul da sua nova casa, retiro um pedaço amassado de papel do meu bolso (é o guardanapo com o logotipo da empresa aérea) e o coloco debaixo da porta.
"Você esqueceu algo", está escrito.
E você abre a porta depois de algum tempo e fica me olhando como se não estivesse acordado. Como se estivesse sonhando.
"Esqueceu o seu lar", digo.
"Desta vez você poderia ficar. Só dessa vez", sua voz soou quase como uma súplica, pronunciando as palavras que outrora meu coração gritava, mas que minha boca nunca foi capaz de dizê-las.
Então chegou a minha vez de trocar mofo por raízes. E eu fiquei.

Este texto é mais um fragmento de contos inacabados que perambulam pelos blocos de notas da minha vida. Para ler informações importantes sobre o que escrevo clique aqui.

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10 comentários

  1. Gostei do texto!
    O seu blog é lindo, parabéns!

    beijos

    http://4quatronotas.wordpress.com

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    Respostas
    1. Ô, florzinha!
      Fico feliz que tenha gostado!
      Amei o seu blog também!
      Beijinhos

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  2. Gosto muito dos seus textos!!
    Costumo ler sempre =)

    http://4demarco.blogspot.com.br

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  3. Amei esse texto, você escreve muito bem :)

    Beijos

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  4. Own, que texto lindo!! Amei, flor! *o*
    Beijinhos!

    Am
    http://www.vinteepoucos.com.br/

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  5. Amei o texto e as fotos!
    www.analogicbea.blogspot.com

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  6. Adorei seu blog parabéns. Bom eu vou terminar o colegial ano que vem, e gosto muito de fotografia, e como você é fotografa gostaria de saber melhor como é a profissão sei que é meio chata pedir isso, mas infelizmente não conheço nenhum fotografo :s
    Se quiser pode responder por email - jojonasilvinha@gmail.com
    Obrigado pela atenção.

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