Carrego a felicidade no bolso


Sinto falta de não ser adulta.
Dizem que criança não entende as coisas. "Não fique ouvindo as conversas dos adultos, vá brincar com sua irmã!". "Isso não é assunto para você". "Não vamos te contar porque não queremos que você se preocupe com os nossos problemas".
Mas eu sempre ouvia e sempre me preocupava. Não pelos "problemas dos adultos". Eu me preocupava com a preocupação que eles tinham com tudo. 
Sempre esperei que os adultos soubessem sempre o que estavam fazendo. Até parecia que eles sabiam. Mas ao ouvir as conversas e ao observá-los, eu via que eles não sabiam absolutamente nada e andavam sempre sérios, com uma ruga enorme na testa. Eles não sabiam o que queriam. Faziam as coisas porque tinham que fazer.

Já eu? Ah! Eu sabia exatamente o que queria aos nove anos. Podia ser um doce ou até um tênis da Sandy. Ah, esse tênis. Gostaria de desejar algo hoje como eu desejei aquele tênis com cheiro de chiclete. Mais do que desejar, eu queria sentir a satisfação que tive ao ganhar o bendito. Aquela vontade de não tirar do pé e de lembrar o quanto esperei para que aquilo acontecesse. Eu dormi com ele do lado da cama nessa noite.

Hoje eu quero muitas coisas. E nem estou falando de bens materiais. Mas são tantas coisas, que querer se tornou querer mais. Depois mais, mais e mais. Isso fez com que eu não tivesse mais satisfação suficiente ao conquistar algo. Como se a conquista tivesse chegado tarde demais. E, no fim das contas, chegou mesmo. Virei adulta, é tarde demais para sentir uma satisfação completa como a de um ser humano inocente como eu era há 15 anos atrás.

É como uma personagem da minha série favorita disse, há três episódios: "Eu olho para minha casa perfeita, meu marido perfeito, meus filhos perfeitos e não sinto nada. Apenas penso: sou uma pessoa abençoada".
É exatamente assim que eu acho que perdi minha infância e me tornei adulta: perdendo a essência das pequenas alegrias e não sabendo sentir a mesma grande alegria como aos nove. Eu só queria sentir a felicidade, não apenas saber que ela está ali. Entende?

Não sei se isso faz algum sentido. Apenas sei que me gostaria muito sentir completamente feliz em cada conquista da minha vida. Ultimamente minha razão está satisfeita, mas a emoção não se manifesta como eu esperava. Ando por aí, carregando a felicidade no bolso da camisa, não dentro do peito. É como se eu precisasse de um braço, a vida me desse um e, ao invés de sorrir, eu pergunto: "mas cadê a perna?".

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1 comentários

  1. Nossa, que texto mais lindo! Super reflexivo! Com certeza, quando criança - muitas vezes valorizamos mais as pequenas alegrias, à quando adultos, que nas nos satisfaz em pouca proporção.
    Besos, Éh! ♥
    www.momentosassim.com.br

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