Domingos como esse


Era um sábado qualquer. O dia começava nublado, o ar passava gelado pelo meu nariz enquanto eu corria, atrasada, pelas ruas quase vazias. O ano estava acabando e parecia domingo.
Nao sei ainda se foi esse ar da manhã, se foram as palavras melancólicas de C.F.A em "Morangos Mofados" ou se foi o som dedilhado do violão que um rapaz, sorridente demais para um sábado as 7h da manhã, tocava enquanto me desejava um bom dia. "Bom dia!", respondi surpresa.
Essa frasezinha pequena, usual demais e, na maioria das vezes, dita por uma simples conveniência social, trouxe um aperto agudo no peito. Doeu um pouco, sabe? Mas não doeu de tristeza, doeu de saudade.
Nao é à toa que essa palavra só existe em português. Ela é bem difícil de traduzir mesmo.
Eu acho que saudade é meio que ter inveja daquele personagem do filminho que roda sem parar na sua cabeça. Inveja por ele estar vivendo aquele momento bom, por ele estar com aquela(s) pessoa(s) especial(is) demais ou simplesmente por ser esse personagem.
A grande sacada desse filminho é que a persona é você mesmo.
Nao sei se inveja é a palavra certa, mas eu quis dizer sobre aquela vontade de viver aquilo de novo, de sentir aquilo de novo. De respirar aquele ar, de pisar naquele chão e de viver aquele fragmento de vida que já passou. Entende?
Pois é. Doeu.
Doeu a saudade de uma manhã geladinha de domingo. De acordar e ver os amigos espalhados em colchões pelos quartos e salas de casa. De tomar café intercalando um gole com uma gargalhada ou um tapa naquele idiota que mais parece meu irmão separado na maternidade. De interromper a gargalhada para encontrar o olhar do outro amigo (que eu queria que fosse mais do que isso) no meu e de confidenciar isso para a amiga que mais parece um doce de tão... doce.
Depois o sol aquecia a manhã e dava aquela vontade de ir à praia. E a gente ia, tocava violão e cantava junto até o por do sol. E eu filmava isso, no celular e na memória. Na lembrança mesmo, que era pra eu poder fechar os olhos e assistir quando quisesse, tipo hoje, nesse sábado com cara de domingo.
Doeu essa saudade simples, mas é gostosa essa dor, essa vontade de viver  e reviver domingos como esse.





Para Cléber Figueiredo, Abraão Stephanes,
Paula Francis, Valéria Lima e Emerson Wilkens.

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